Este espaço contém reflexões que gerem esperança. Humanizar relações
e o cuidado com a vida são coisas de que o mundo precisa...
Boa leitura!

sábado, 24 de março de 2012

Saúde e salvação

Saúde e salvação, em muitas línguas, são ditas com a mesma palavra. Significa integridade física e espiritual, bem-estar, paz. A isto contrasta a dor, o sofrimento, o mal, a morte.
Na saúde e na doença, o ser humano busca o sentido maior de sua existência. O sofrimento foi e continua sendo de difícil compreensão e aceitação. Para muitos povos, a doença é consequência de transgressões do ser humano, de forças demoníacas e de outras entidades intermediárias. Assim, é frequente o recurso à religião e à magia em vista de encontrar um sentido para a vida, superar a doença e garantir a saúde.
A Bíblia fala do mal e do sofrimento, mas não os atribui a Deus, e sim à consequência do pecado, da ação humana contrária ao Criador. Eliminando esta causa, pela obediência à Lei divina, se alcançaria novamente a saúde e a salvação. O livro do Eclesiástico, conjunto de ensinamentos para ajudar o povo hebreu a resistir e a manter sua autoestima diante da imposição cultural estrangeira, oferece coleção de ditos sobre saúde e sobre o papel dos médicos e de outros profissionais que buscam conservá-la. É deste livro o verso que se constitui o lema desta Campanha da Fraternidade sobre Saúde Pública – que a saúde se difunda sobre a terra -, precedido e seguido de ensinamentos para preservar a saúde e superar a perda de pessoas queridas pela morte, da qual ninguém é isento.
Outro livro significativo do Antigo Testamento sobre o sofrimento é o que relata a experiência de Jó, o justo e inocente que padece. Nele, há um avanço na forma de compreender o sofrimento, sua origem e valor, embora não seja ainda a palavra definitiva, capaz de explicar o mal, o sofrimento, e, sobretudo aquele do inocente. Conforme João Paulo II, “o próprio Deus desaprova os amigos de Jó pelas suas acusações (de que Jó estaria sofrendo por ter cometido pecado) e reconhece que ele não é culpado. O seu sofrimento é de um inocente: deve ser aceito como um mistério, que o homem não está em condições de entender totalmente com a sua inteligência. ... para se perceber a verdadeira resposta ao porquê do sofrimento, devemos voltar nossa atenção para a revelação do amor divino, fonte última do sentido de tudo aquilo que existe. O amor é também a fonte mais rica do sofrimento que, não obstante, permanece sempre um mistério. Cristo introduz-nos no mistério e ajuda-nos a descobrir o porquê do sofrimento, na medida em que nós formos capazes de compreender a sublimidade do amor divino.”

terça-feira, 13 de março de 2012

O bem viver ou o viver melhor?

A Campanha da Fraternidade nos coloca como um dos objetivos “o disseminar o conceito de bem viver e sensibilizar para a prática de hábitos de vida saudável”. Este é um conceito que vem dos povos indígenas andinos, que foi incluído nas Constituições do Equador e da Bolívia.
Viver bem faz—nos refletir que devemos viver em harmonia e em equilíbrio. Em harmonia com a Mãe Terra, com o cosmos, com a história. Viver bem é viver em harmonia com os ciclos da vida, saber que tudo está interconectado, interrelacionado e é interdependente; viver bem é saber que a deterioração de uma espécie é a deterioração do conjunto. Pensamentos e sabedorias dos nossos avôs e avós que hoje nos dão a clareza do horizonte do nosso caminhar.
Há que diferenciar viver bem do viver melhor. Viver melhor significa ganhar à custa do outro, é acumular por acumular, é ter o poder pelo poder. Mas viver bem é devolver-nos o equilíbrio e a harmonia sagrada da vida. Tudo que vive se complementa. Tudo está interrelacionado: a árvore não vive para si mesmo; o inseto, a abelha, a formiga, as montanhas, não vivem para si mesmos, senão em complementariedade, em reciprocidade permanente.
Estamos falando que a saúde deve se difundir sobre a terra. E cuidar da saúde das pessoas é, necessariamente, cuidar da saúde do planeta. O bem viver nos convida a não consumir mais do que o ecossistema pode suportar, a evitar a produção de resíduos que não podemos absorver com segurança e nos incita a reutilizar e reciclar tudo o que tivermos usado. Será um consumo reciclável e frugal. Então não haverá escassez.
Nesta época de busca de novos caminhos para a humanidade a ideia do bem viver tem muito a nos ensinar.
As Metas do Milênio

A Campanha da Fraternidade deste ano nos lembra – no seu Texto-Base – as oito metas a serem implementadas para suprir os déficits também no campo da saúde pública, metas estas definidas pela ONU (Organização das Nações Unidas) em 1990, que se tornaram referenciais para as ações sociais do governo e de entidades civis e religiosas, em prol da melhoria das condições de vida das populações. A saúde ocupa o centro de suas atenções, com objetivos estipulados para serem alcançados até o ano de 2015. São elas: reduzir pela metade o número de pessoas que vivem na miséria e passam fome; garantir educação básica de qualidade para todos; promover a igualdade entre os sexos e mais autonomia para as mulheres; reduzir a mortalidade infantil; melhorar as condições de saúde das gestantes; combater epidemias e doenças; garantir a sustentabilidade ambiental; estabelecer parcerias mundiais para o desenvolvimento.
O Brasil é, no mundo, um dos países em que a mortalidade infantil mais diminuiu. Segundo a Revista The Lancet, no estudo saúde no Brasil (2011), os óbitos por mil nascidos vivos passaram de 69,12, em 1980, para 19,88, em 2010. Este decréscimo de 71,23% é um avanço positivo que aconteceu basicamente graças ao SLUS, á participação da sociedade, ao maior incentivo ao aleitamento materno. Segundo o mesmo estudo, de 1970 a 2007, a duração média da amamentação materna aumentou de dois meses e meio para 14 meses.
Devemos ressaltar, neste item, o trabalho da Igreja, por meio do engajamento das Pastorais Sociais, principalmente da Criança e da Saúde. Nos grupos acompanhados pela Pastoral da Criança, o índice de mortalidade infantil, em 2010, foi de 11 mortes para cada mil crianças nascidas vivas, quase a metade da média nacional.
As ações da Igreja se pautam pela disseminação da cultura de hábitos e estilos de vida saudáveis, mostrando que é possível criar uma cultura de vida, onde a saúde se difunda sobre a terra.

O sofrimento

O sofrimento

A Palavra de Deus procura sempre iluminar a nossa vida nas mais diversas situações. E uma situação concreta que aflige o ser humano de todos os tempos é o sofrimento. Por que há no mundo tantas pessoas sofrendo? Ninguém gosta de sofrer, mas o sofrimento existe: injustiças, guerras, calamidades, pobreza, fome, discórdias, doenças…
Quem é o culpado? Seriam os nossos pecados? É um castigo de Deus? Como explicar então os inocentes, o Cristo na cruz? Por que Deus permite essas coisas sem intervir? Por que o justo também sofre e o malvado parece estar em situação melhor? Qual é o sentido do sofrimento e da dor?
A Bíblia até tem um livro para tratar desta questão. É o Livro de Jó. Jó é um homem justo e fiel ao Senhor. Possuía muitos bens e uma família generosa. De repente, viu-se privado de todos os seus bens, perdeu a família e foi atingido por uma doença grave.
Essa triste situação provoca no coração dolorido de Jó sentimentos de amargura e de revolta contra esse Deus incompreensível. Até os amigos insinuam ser castigo de Deus… Jó lamenta sua condição de sofredor, mas confia em Deus, pois tem a certeza de que só em Deus pode encontrar esperança e o sentido para a sua existência.
A experiência de Jó no sofrimento é um modelo para todos os que têm fé. Mesmo amaldiçoando seu próprio nascimento, Jó não amaldiçoa Deus, pelo contrário, reconhece e louva sua sabedoria e suas obras na criação: o abismo de seu sofrimento pessoal não lhe fecha os olhos para a grandeza de Deus.
Diante do sofrimento, ou descobrimos o rosto verdadeiro de Deus, ou fazemos dele um monstro, que nos devora e inferniza a nossa vida…
Não nos esqueçamos: o sofrimento pode ser uma visita de Deus… E quando entendermos isso, tudo fica muito diferente… "Não nascemos para sofrer, mas o sofrimento nos faz crescer..."
O sofrimento continuará sempre sendo um mistério… Jesus não elimina o sofrimento, mas nos ensina a carregá-lo com amor e esperança, para que dê frutos de vida eterna… Jesus nos garante de que Deus nunca nos abandona… Resta-nos confiar em Deus e entregar-nos em seu amor.
Os cristãos não descobriram o caminho para evitar o sofrimento. Sofrem como os outros e, às vezes, até mais do que os outros, mas descobriram que a Cruz de Jesus Cristo é redentora. Carregar a cruz sozinhos é desesperador… Mas unidos a Cristo, todo sofrimento é salvador, inclusive o nosso…
No dia onze celebramos o Dia mundial do enfermo. "Levanta-te e vai, a tua fé te salvou". (Lc 17,19 : Lema de 2012)
Rezemos para que Deus nos dê muita luz para compreender o mistério do sofrimento e muita coragem para carregá-lo com amor.

O dom da saúde

O dom da saúde

Toda pessoa quer viver, viver bem, viver com saúde. Mas as enfermidades e a morte contrariam esta aspiração universal e levantam interrogações existenciais nem sempre respondidas. A ciência, com seus avanços permanentes, amarga sua limitação diante de certas doenças e do fim do ciclo da vida neste mundo.
A saúde nem sempre é compreendida em sua abrangência total. Muitos excluem a dimensão espiritual ao definir saúde e doença. A Organização Mundial da Saúde (OMS), em 1946, definiu a saúde sem este aspecto fundamental: “um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não apenas a ausência de doenças”. Em 2003, a própria OMS acrescentou este elemento a esta sua definição de saúde. Já o Guia para a Pastoral da Saúde (GPS), elaborado pelo Conselho Episcopal Latino-americano (CELAM) define a saúde como um “processo harmonioso de bem-estar físico, psíquico, social e espiritual, e não apenas a ausência de doença, processo que capacita o ser humano a cumprir uma missão que Deus lhe destinou, de acordo com a etapa e a condição de vida em que se encontre”.
Este conceito revela a compreensão do ser humano como uma unidade pneumossomática, termo originado da união das palavras gregas que significam espírito e corpo. Nesta compreensão, vida saudável requer harmonia entre corpo e espírito, pessoa e meio ambiente, personalidade e responsabilidade. A Doutrina Social da Igreja oferece amplos elementos para a compreensão da saúde e de sua promoção. A Campanha da Fraternidade já contemplou direta ou indiretamente o assunto. Em 1981, o tema foi Saúde e Fraternidade, com o lema: Saúde para todos. Em 1984, tratou da vida, com o lema: Para que todos tenham vida. E este ano novamente volta ao tema, ao falar da Fraternidade e Saúde Pública.
Que a saúde se difunda sobre a terra é o grande desejo de Deus, expresso no livro do Eclesiástico, capítulo 38, versículo 8. É também a grande aspiração humana, pela qual devemos batalhar.